sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Almada e o nosso património arqueológico

Organizada pelo Centro de Arqueologia de Almada e apoiada pelo poder local, nomeadamente Junta de Freguesia de Almada, realizou-se no passado dia 22 deste mês, a visita ao património arqueológico de Almada.

O ponto de encontro dos participantes foi o edifício dos Paços do Concelho, pertencente outrora aos arrabaldes do núcleo medieval.
Nas palavras de Vanessa Dias, a nossa guia, o que podemos encontrar nos dias de hoje em maior número são as estruturas negativos, no solo, que se foram conservando; ao contrário das construções à superfície que foram sendo "vítimas de alterações" devido às sucessivas ocupações.

Foto do Museu do Sítio. A legenda explicativa assim nos situa: "Compartimento de habitação com porta para a rua. No interior, um silo completo com tampa. No chão, vasilhas de armazenagem (talha e bilha) e transformação (alguidar de amassar) do séc. XIV."
Um ponto de visita muito interessante, de dimensão algo reduzida, mas com evidente mais valia para o apaixonado pela história e património do concelho, nomeadamente quanto à ocupação muçulmana, da qual existem vestígios em Almada a partir do séc. IX, e também ao período medieval e moderno. 

O grupo avança pelas ruas estreitas de Almada Velha em direcção ao Castelo, fazendo uma paragem na Igreja de Santiago (pertencente à Ordem de Santiago, donatária de Almada desde 1186), construída fora das muralhas.

O jardim do Castelo possibilita-nos uma panorâmica dos arrabaldes medievais. Nota de referência para o miradouro e o coreto, embora desfasados do contexto da temática da visita. 

O Castelo de Almada apresenta-se hoje completamente descaracterizado devido ao restauro moderno. O seu interior não é visitável, servindo como instalação da guarnição da GNR. A conquista por parte de D. Afonso Henriques deveu-se à sua implantação em zona estratégica.

Situada num esporão possibilitador de controlo absoluto do território, o Almaraz, na posse da Câmara Municipal de Almada, foi o próximo ponto de visita.
Parte do povoado está destruída devido à sua exploração, durante a época medieval, como pedreira. À primeira vista e sem transpormos os portões nada é visível que ateste ao visitante a importância deste aglomerado, na Idade do Bronze e posteriormente na Idade do Ferro, mas os testemunhos materiais encontrados, e já estudados pelos arqueólogos, são reveladores dos contactos culturais existentes entre os fenícios e os povos autóctones, tendo constituído uma comunidade rica, com recolha de espólio valioso. Como pormenores apresentada pela nossa guia, foi-nos referido que a metalurgia era uma actividade muito presente nesta população, assim como a tecelagem. Este povoado constitui o primeiro indício de urbanização de Almada - o seu núcleo inicial.
Os arqueólogos encontraram alguns materiais  testemunhando a conquista romana. Estando este povoado situado numa implantação de altura não era atractivo para a fixação dos romanos que prefeririam Lisboa, uma zona plana, enquanto nesta margem sul do Tejo aqui se fixariam os sectores rural e industrial.

A paragem seguinte deste roteiro arqueológico de Almada seria para uma apreciação rápida de uma casa de contexto urbano, de arquitectura pombalina.

O percurso continuaria, detendo-nos defronte da fachada principal da Igreja da Misericórdia, onde pudemos ouvir que aqui ocorreram descobertas de sepulturas no interior, testemunhas de enterramento intencional.

O passeio terminaria na Rua da Judiaria com a oferta de uma visualização inesperada - um silo medieval situado debaixo do pavimento da rua e coberto com uma tampa de esgoto; uma descoberta efectuada no decurso de obras de saneamento e preservada através da única forma possível dada a sua localização.

A arqueologia em contexto urbano foi a protagonista desta visita. Assinalo a complementaridade do trabalho desenvolvido entre a Junta de Freguesia  de Almada e a instituição organizadora, o CAA. O poder municipal desempenha um papel de salvaguarda do património arqueológico em meio urbano que, convém assinalar, se constitui e potencia devido a acções particulares e associativas. 



Conceição Toscano




terça-feira, 18 de setembro de 2012

Roteiro arqueológico em Almada Velha

Organizada pelo Centro de Arqueologia de Almada, realiza-se, no dia 22 de Setembro, a visita ao património arqueológico de Almada Velha.

O ponto de encontro é nos Paços do Concelho, às 10 horas.

Fonte: Página do Centro de Arqueologia de Almada no Facebook

Conceição Toscano

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Leituras do património

Depois de um interregno não planeado, aqui ficam algumas das leituras realizadas durante as férias.

Pedra & Cal Nº3, Julho/Agosto/Setembro 1999
"A valorização do património cultural, e em particular, do património arquitectónico, tendo em vista a sua utilização para fins turísticos, é uma das formas mais eficazes de estimular a sua salvaguarda e de criar as receitas necessárias para o respectivo financiamento." (V. Cóias e Silva, no Editorial «Património e turismo: um casamento de conveniência»)

«Mecenato cultural em Portugal», por Anabela Antunes Carvalho e Isabel Rodrigues Cordeiro
«Cultura e turismo: para uma economia de mercado», por Válery Patin






Pedra & Cal Nº16, Outubro/Novembro/Dezembro 2002
"As repercussões da nova rede de transportes foram imensas. A ligação entre as cidades e a província contribuíu, decisivamente, para o acesso à "civilização" de um interior ostracizado, e a economia ganhou um renovado impulso. [...] E o comboio foi rapidamente integrado pela nossa cultura e acarinhada pela nossa gente. Para além do entusiasmo dos "fans", os caminhos-de-ferro constituem, hoje, um valioso património construído que o país não pode ignorar e, muito menos, desperdiçar." (V. Cóias e Silva, no Editorial «Os caminhos-de ferro como património cultural»)

«As estações ferroviárias - evolução e história», por Simões do Rosário
«As infraestruturas ferroviárias em Portugal: o século XIX», por Jorge Paulino Pereira
«O Museu da Carris», por Leonor Silva

Pedra & Cal Nº48, Outubro/Novembro/Dezembro 2010
"O património cultural passou, assim, a englobar não só as construções, as esculturas, pinturas e outros objectos físicos - o património cultural material - que recebemos das gerações passadas e de que tanto nos orgulhamos, mas também o património cultural imaterial: tradições orais, saberes ancestrais, músicas, cantares e danças tradicionais, ou seja, todo um conjunto de referências identitárias tão importantes para certas comunidades humanas como os monumentos e edifícios históricos são para outras." (V. Cóias e Silva, no Editorial «12 anos de Pedro & Cal: Tempo para "desmaterializar"»)

«A Convenção do Património Cultural Imaterial: Contexto e aplicação na reabilitação do edificado», por Clara Bertrand Cabral
«Património imaterial: Onde mora a alma de um povo», por Alexandre Parafita
«Rugologia: O arquivo da rua», por Constança Saraiva
«Novas tecnologias ao serviço do património: A fotografia panorâmica 360º e realidade virtual», por António Cabral

Pedra & Cal Nº50, Julho/Agosto/Setembro 2011
"Estamos na era das novas tecnologias e da globalização e surge também uma nova ideia, do trabalho em rede, que deverá contribuir para que associações e empresas unam esforços e criem parcerias que, agindo de forma integrada, formem uma rede alargada de conhecimento da realidade existente ao nível do património edificado e grupos de intervenção, de modo a transformar o património abandonado nas áreas envolventes dos centros urbanos, que, reconhecidamente, mereça ser tornado útil e belo, para que as novas gerações encontrem nas nossas cidades espaços interessantes, onde possam (con)viver." (Carlos Freire, no Editorial «Associativismo, voluntariado e trabalho em rede»)

«Que futuro para um passado esquecido», por Bartolomeu de Noronha
«Património cultural e associativismo», por Francisco Sousa Lobo e Sofia Costa Macedo

Conceição Toscano