quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cova da Piedade: o associativismo como património cultural

Particularmente importante e fundamental assume-se a actividade de uma associação em concreto: a SFUAP - Sociedade Filarmónica União Artística Piedense. À volta do primeiro objectivo cultural da sua formação, criação de uma banda de música, criaram-se laços de sociabilidade entre operários, corticeiros, metalúrgicos, moageiros, e, mais tarde, da indústria naval, já residentes na zona e também vindos de fora, mas igualmente com demais pessoas de Almada, das mais variadas classes e profissões, desde comerciantes e intelectuais, sentimento saudável em torno de algo que não conhece nem barreiras sociais, nem geográficas - o amor à música; mais tarde, ao teatro, ao desporto e à educação. E igualmente a vontade de contribuir para o desenvolvimento cultural e social dos seus membros, através de actividades recreativas e artísticas, o que fomentou a união entre gentes tão diversas.
A SFUAP é umas das associações representativas do espírito associativo do concelho de Almada. Cultural e socialmente está indelevelmente ligada à evolução da Cova da Piedade, nomeadamente estando a sua sede instalada num dos mais emblemáticos edifícios do património piedense: o palacete de António José Gomes, o industrial, com o seu nome ligado ao apoio à colectividade e a algumas das suas mais prestigiosas e ambiciosas obras na área da cultura, desporto e educação.

Trabalhando no presente, pensando no futuro, nos finais do século XX, houve que levar em conta os novos modos de ocupação dos tempos livres, consequência do progresso tecnológico e evoluções da cultura de massas, tentando evitar a redução da atracção das associações de carácter recreativo e cultural, fomentando um renascer do espírito associativo, criando novas condições de acolhimento por parte das colectividades, melhor adaptadas e ajustadas às novas vivências.
Neste redimensionamento das matrizes identitárias nas sociedades dos nossos dias, com maior urgência há que retornar aos esquemas associativos de outrora, numa procura de reequilíbrio entre o novo e o velho, numa tentativa de alcançar uma justa mediação entre as identidades sociais tradicionais e a cedência a outras momentâneas ou não. A construção harmónica dos indivíduos continua a ser o objectivo e, nessa intenção, é fundamental a existência de vínculos e compromissos duradouros, contrariando a tendencial atomização da vida colectiva.

A história desta associação, o seu percurso de mais de cento e vinte anos, desde 1889, corporiza o diálogo entre um passado e um presente, contribuindo para a contínua consolidação de laços colectivos em torno de sociabilidades e tradições e um interesse sempre actuante no património cultural não somente a nível local.
 
Vista parcial do Largo 5 de Outubro, destacando-se o palacete da família Gomes e a Banda da SFUAP, 1989 (Fonte: Alexandre M. Flores, da sua obra António José Gomes: o homem e o industrial, p.118)




Palacete nos dias de hoje, fachada lateral

Conceição Toscano

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